terça-feira, 27 de junho de 2023

GRÊMIO 44, UMA CRÔNICA

Há alguns dias eu completei 44 anos. Meu ser, ainda que intocável como uma santidade e invisível como um sentimento, comove e mobiliza outros seres a cada fim de semana e até nos dias de feira. Confesso que esses outros seres, quando se juntam dentro da invocação “Família Minha” me comovem tanto quanto.

No último sábado, 10 de junho, dia em que essa Família festejou a passagem de mais um desses 44 anos, fui presenteado com a reforma esplendorosa do meu quintal. Depois de tantos anos chutando pedras e comendo o pó do nosso chão, meus meninos, homens e mulheres com almas meninas, transbordaram sorrisos e lágrimas ao verem e sentirem de perto e de dentro o prazer de fazer rolar a bola na grama verde e perfeita de meu quintal.

Grêmio 60tão

Esses homens meninos,
essas mulheres meninas lutaram por isso durante quase meio século. Agora, entre abraços, beijos, risadas e lágrimas de gratidão, aquela força invejável, a resiliência e a eterna união convergem todos na direção de me fazer ainda maior e mais vencedor.

Eu sou o GRÊMIO RECREATIVO PADRE JOSÉ DE ANCHIETA, ou simples e carinhosamente, Grêmio Anchieta, assim como me tratam meus meninos.

Eu sou Grêmio! Assim se fala batendo no peito e ostentando as cores do sagrado manto, que até outro dia inspirava a frase que saltava ao olhos de minha comunidade: “Aqui não tem lugar pra racismo. Somos todos, preto, azul e branco!

Cinquentão
Grêmio 50tão

Assim sou eu, assim são meus homens, mulheres e meninos. Assim é a minha comunidade. Sei que não posso ser tocado, nem fisicamete visto, mas estou em todos os lugares onde puder bater forte o coração de um dos meus meninos.

Eu sou GRÊMIO, 44 vezes!!

quinta-feira, 29 de dezembro de 2022

Pelé: plenitude


Quando um outro gênio morreu, eu escrevi que ele não  era Deus. Hoje, morreu o maior de todos e a sensação é  a de que este só morreu porque, assim como aquele, também não  era. Talvez tenha herdado sob sua pele preta alguns dotes e talentos inerentes apenas a alguma divindade. Talvez, tal qual um semideus gerado por uma ninfa, não tenha se banhado no Estige, não tenha herdado a imortalidade, e a flecha tenha lhe atingindo justamente onde não tinha proteção.

No entanto, a sua imortalidade não está vinculada ao seu perecível corpo que agora voltará ao pó. Sua imortalidade estará sempre ligada ao imponderável que era ver pernas, tronco, braços e cabeça  se moverem em sintonia, como a ouvir sinfonia, enquanto seu entorno convulsionava apavorado sem distinguir direção, atitude ou razão.

A bola colada aos pés lhe era fiel. Em que outros pés encontraria melhor tratamento? Em que outros pés o carinho, o amor e o respeito lhe diriam tanto. Resvalando a grama ou em precisas viagens aéreas o melhor acolhimento estava sempre próximo aos seus cadarços bem amarrados, ou na recepção calorosa do peito que a fazia dormir e sonhar.

Ele se fez Rei. Foi consagrado por si. O mundo o reverenciou, e essa reverência se manifestará a cada emissão de seu nome, a cada frase relembrada, a cada um de seus mais de 1.200 gols que a TV não  cansará de reprisar.

Não  foi Deus, e por isso falho como cada um de seus súditos. Talvez por isso o homem falava da personagem e também  o contrário. Ele há  muito já  não  desfilava e deslumbrava pelos campos do mundo, mas o legado e a referência se manterão vivos. Um substantivo que virou adjetivo. Um nome que virou sinônimo de magistralidade, de virtuosidade e penitude. 

sábado, 15 de maio de 2021

Dando a Letra


Mano do céu! O barato é louco e o processo é lento. Cê tá ligado no movimento? Não? Cara, então vou te dar a letra.

Diz que tá rolando mó treta lá na Capital. Só vê neguinho no corre, de um lado pro outro, procurando brecha pra cair fora das arenga braba. Tem até milico grandão pedindo pano pra ficar de bico calado pra não ramelar no papo na frente dos astutos.

Enquanto uns falam: "cola em mim que eu te garanto", outros arrastam metendo o louco com uma pá de mentiras pra cima dos mano que chamam no papo reto.

E o presida!? Cheio de caô pra cima de nóis. Metendo o biruta enquanto dá ruim pra rapaziada  sem pico e sem trampo. O cara tá na Disney. Se pá, só colando o mano na grade pra ver se vira.

Na boa? Nessas horas não pinta um maluco pra jogar a real. Só brota uns mané falando "vem com o pai", mas o que pega memo é correr na subida sem rango nem xepa pra rebolar o queixo.

Enquanto isso, vai vendo, bem na manha, bem na maciota, os burgas, de rolê, só metendo a mão na grana, lançando logo umas doze carreiras pros mauricinhos e patrícias. E eles lá. Festona boa, e a lousa cheia de giz. "Apaga a lousa, mané!". Ainda têm a manha de mandar na self um tamo junto traíra.

E a galera da rua, aquela que manda um salve só pra quem é, ainda se vira, na febre e no atropelo, pra se garantir. Cê é louco, tio! Pra esses mano não tem tempo ruim. Pode pá que quem é do sereno dá seus pulo e faz seus corre pra sobreviver.

E é isso memo! O barato é louco, mas aqui ninguém tá tirando. Quem é, continua mandando a real e encarando a sua luta. Salve, rapaziada! É nóis!