quinta-feira, 26 de dezembro de 2013

Ainda e Sempre, Mandela!

Apagou-se a luz.
Apagou-se a luz negra que iluminou uma nação. A luz negra que retirou da escuridão as piores mazelas de um povo e trouxe à tona o verdadeiro sentido de liberdade. O verdadeiro sentindo do verbo conviver. Conviver com o próximo, com o amigo ou inimigo, com a dor, com a prisão. Conviver com a segregação e, a partir dela, forjar e conviver com a liberdade.
Vinte e sete anos tomados de uma vida, Simplesmente porque o preto de sua pele e a contundência de seu discurso eram por demais perturbadores. Vinte e sete anos para não deixar pedra sobre pedra. Pedras tantas e tantas quebradas em sua reclusão, que,  porém, nem comparam-se com a magnitude das imensas rochas implodidas fora dos muros da prisão.
O Seu legado de amor e dedicação à causa de seu oprimido povo perdurará até os fins dos tempos. Em todos os confins, em todos os mais recônditos cantos deste mundo segregado, a força imensurável daquele rosto brando e da sobriedade de seus exemplos, muito mais que meros discursos, ainda implodirá muitas e muitas pedras de discriminação.
E a nós, restará o exemplo de uma vida dedicada ao próximo, ao irmão, à nação. O exemplo inconfundível e inesquecível de um filho de uma terra que, através de seus atos e sua luta, tornou-se pai de toda uma nação. O melhor dos pais, que cuidou dedicadamente a cada um de seus oprimidos e sofridos filhos.
O exemplo vivo até os últimos segundos de fôlego, de como o mundo pode ser transformado, se em vez do ódio gratuito, o perdão brotar como pedra fundamental em todas as relações.
Madiba, teu povo chora, mas também canta e dança. O mundo te deve, ao menos, vinte e sete anos de silêncio!

sexta-feira, 26 de abril de 2013

Lamento

O lamento se ouve
longe.
Houve-se longe.
Ondas curtas e médias
e mídias longas.
Notas longas
e pausas.
E o veludo envolve ouvidos.
A surdina aquece.
Metálico som.
Negrume.

Volume.
Baixos azuis.
Almas blues.
Rasgante vóz.
Luas sós.
E o vento em nós,
impulso e pulso
e dança lenta.
Acre e lento lamento.

Houve lamento.
Ouve, lamento!

domingo, 27 de janeiro de 2013

O olhar do sertão


O Sertão esteve na TV. Mostrou seu corpo e suas caras. Eram simples as suas caras. Simplicidade nas casas, nas falas. Simplicidade no olhar.

Um olhar profundo que fala por si e por seus arredores.  É um olhar cativo, franco, receptivo. É o olhar que contempla de cócoras e do alto da velhice sertaneja, o espaço vazio do lago seco. É o olhar trigueiro e tenaz da magrice menina, espreitando a arapuca à espera do pássaro que por cisma ou falta de forças, não se arrisca na armadilha.

O olhar do animal caminha lento pelo que foi seu pasto, e consome em agonia o coração do velho, que acompanha o bicho na caminhada em busca de água sobre cascos sofridos, carregando, em pele e osso, o sofrimento do boi moribundo. 

Tanta terra, tanta gente, e nem se quer, uma gota. O caminho de pedras é seco e poeirento. Nenhum verde no desabafo do sertanejo: - O Sertão não era pra ser assim. – Tanta fé, tanta esperança, tanta pobreza! E o velho sertanejo diz: - O sertão era pra ser verde! 

O sertanejo é feito de terra, mas também de água. A água que lhe falta. E é esta água que lhe fez que ele espera para fazer verdejar o sertão.  

O tambor viaja calmo, no lombo do burro conduzido pelo mesmo menino caçador de passarinho, que após inesperado sucesso em sua caçada, liberta sua presa em troca de uma nota de Real. 

O tambor que volta do açude viaja pesado e cheio de água barrenta, a caminho de matar a sede da mãe que amamenta seu filho com a reserva de força de seu ventre, e o resto dos quase insignificantes peitos que outros seis meninos sugaram, para manter vivo o sofrido e não menos esperançoso, olhar do Sertão.