O Sertão esteve na TV. Mostrou seu corpo e suas caras.
Eram simples as suas caras. Simplicidade nas casas, nas falas. Simplicidade no
olhar.
Um olhar profundo que fala por si e por seus arredores.
É um olhar cativo, franco, receptivo. É o olhar que contempla de cócoras e do
alto da velhice sertaneja, o espaço vazio do lago seco. É o olhar trigueiro e
tenaz da magrice menina, espreitando a arapuca à espera do pássaro que por
cisma ou falta de forças, não se arrisca na armadilha.
O olhar do animal caminha lento pelo que foi seu
pasto, e consome em agonia o coração do velho, que acompanha o bicho na
caminhada em busca de água sobre cascos sofridos, carregando, em pele e osso, o
sofrimento do boi moribundo.
Tanta terra, tanta gente, e nem se quer, uma gota. O
caminho de pedras é seco e poeirento. Nenhum verde no desabafo do sertanejo: -
O Sertão não era pra ser assim. – Tanta fé, tanta esperança, tanta pobreza! E o
velho sertanejo diz: - O sertão era pra ser verde!
O sertanejo é feito de terra, mas também de água. A
água que lhe falta. E é esta água que lhe fez que ele espera para fazer
verdejar o sertão.
O tambor viaja calmo, no lombo do burro conduzido pelo
mesmo menino caçador de passarinho, que após inesperado sucesso em sua caçada,
liberta sua presa em troca de uma nota de Real.
O tambor que volta do açude viaja pesado e cheio de
água barrenta, a caminho de matar a sede da mãe que amamenta seu filho com a
reserva de força de seu ventre, e o resto dos quase insignificantes peitos que
outros seis meninos sugaram, para manter vivo o sofrido e não menos esperançoso, olhar do Sertão.
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