O céu seria ainda mais lindo com suas noites estreladas e repletas de flores multicoloridas a enfeitar seus recantos, mas em seguida, outro canal, outro telejornal, acabou me trazendo de volta à Terra ao deixar bem claro que nem tudo são flores ou alface nesse canteiro espacial.
Agora, as autoridades já estão preocupadas com a quantidade de lixo no espaço. Como assim? Lixo no espaço? Isso mesmo! As autoridades mundiais estão preocupadas porque a órbita da Terra está repleta de milhões de fragmentos de satélites e espaçonaves. Dizem que estes objetos trafegam a esmo no espaço a uma velocidade tão grande, que até um simples parafuso pode, ao se chocar com alguma espaçonave, causar um acidente sem proporções. Alguns cientistas já estudam e tentam desenvolver uma espécie de braço, mão mecânica, ou um tipo de imã que recolha esses objetos perdidos quando da eminência de um choque indesejado.
De lavrador terei de passar a gari. Terei de deixar minha lavoura entre estrelas para, a bordo de um caminhão espacial de lixo, sair flutuando na falta de gravidade, recolhendo, um a um, os dejetos orbitais, para que numa eventualidade esses não venham destruir minhas pimentinhas, meu coentro, nem, muito menos o meu Ipê amarelo.
E não é mesmo incrível como o ser humano desenvolveu essa capacidade de inventar tecnologias e de desbravar territórios desconhecidos? Sim, é. E é tão capaz, que no decorrer do último milênio, sempre em nome do desenvolvimento, foi desbravando, desmatando e poluindo a terra. Em nome de tal globalização, foi desbravando mares e rios, e deixando suas pegadas flutuantes de óleo espalhadas por toda água doce ou salgada. Em nome de famigerada mobilidade, foi desbravando matas, abrindo ruas, estradas e avenidas, atapetando tudo de asfalto, e cobrindo o céu com o cinza vomitado de seus tecnológicos automóveis.
Aos poucos matam a terra, secam as águas, extinguem o ar, e agora, também em nome da ciência, poluem e entopem de lixo o espaço sideral.
Quero minha lavoura de volta. Quero colher minha alface e sentir o cheiro de terra jorrar de suas raízes, para não acabar feito o que diz a canção: “Quanto mais longe da terra, tanto mais longe de Deus.”.